O maior milagre sôbre a Terra é o homen. O seu corpo, que consiste em ossos, carne e sangue,
esconde segredos que êle, durante milênios, procurou deslindar, na busca de uma solução para o grande enigma, o
profundo mistério da enorme esfinge. Muitos tentaram solver o mistério do homem, poucos vingaram fazer falar a esfinge. E
pouquíssimo, dentre os que cavaram mais fundo, infatigavelmente, no próprio EU, conseguiram, afinal, compreender o maior
segredo que existe: êles mesmos.
Na Índia se têm estudado os segredos da alma humana desde tempos imemoriais, e muitos ^
consagraram tôda a existência a êes objetivo a fim de descobrir: que é o homem ? - e qual o seu destino aqui na
terra ?
Divorciados da agitação do mundo, concentraram todos os pensamentos e desejos numa
única pergunda: quem sou eu ? - O seu labor infatigável, a férrea persistência e ânsia com que se atiraram à procura
da verdade, todos deram frutos, e eis que lhe iluminou o espírito e diante dêles se desvelou todo o segrêdo do SER.
Compreenderam a VIDA. Foi-lhes possível enxegar as causas mais profundas e mais ocultas. E, aberto à sua frente, viram o
caminho que se afasta do sofrimento e se eleva para a liberdade, a felicidade, a eterna beatitude... Conheceram que êsse
estado está ao alcance de todo ser humano, e os que assim se viram esclarecidos, apiedados da Humanidade sofredora,
principiaram a ensinar às gentes o caminho da redenção e da liberação.
Vários caminhos conduzem ao tôpo. Muitos preferirão a via fácil e confortável, que
serpenteia morroa cima, porque a sua constituição física não se presta para escalar precipícios. Outros tomarão por um
atalho, subindo encostas mais íngremes. E, finalmente, há os que elegem o caminho mais curso, escalando as muralhas de
rochas para atingir mais depressa a meta.
Semelhantemente, pode o homem acercar-se da grande meta interior percorrendo sendos caminhos, de
acôrdo com as suas habilidades espirituais e físicas. Os grandes mestres criaram vários sistemas, a fim de colocar o fim
colimado ao alcance de todos. Tais sistemas encurtam o caminho, e os que os aplicam alcançam o alvo mais rápida e
fácilmente.
O nome coletivo desses sistemas é Yoga.
Os grandes professores e mestres que chegaram às suas metas percorrendo o caminho do
Yoga chaman-se Iogues.
Os vários sistemas de Yoga diferem apenas no ponto de partida. A sua essência e
finalidade são sempre as mesmas: o perfeito conhecimento desi próprio. Êsse objetivo, porém, só pode ser conciliado
mediante uma autodisciplina incondicional. Daí que os vários sistemas de Yoga nos ensinem primeiro que tudo o
autodomínio. Mas há sistemas de Yoga que começam disciplinando a mente; outros, pricipiam pelo controle dos
sentimentos, e há ainda os que tomam o corpo como ponto de partida; tudo segundo as tendências e habilidades
naturais do aluno. Conforme os diferentes caminhos seguidos, as diversas Yogas têm diversos nomes. Recomenda-se,
contudo, começar pela Yoga que ensina o controle do corpo. É o caminho da saúde perfeita, que se denomina
HATHA YOGA.
O nome Hatha Yoga relaciona-se à verdade sobre a qual se funda o sistema.
Avivam-nos o corpo correntes positivas e negativas, e quando essas correntes se acham em completo equilíbrio, gozamos
de perfeita saúde. Na antiga linguagem do Oriente, designa-se a corrente positiva pela letra "HA", cujo
significado equivale a "SOL". A corrente negativa chama-se "THA", que significa
"LUA". A palavra YOGA tem duplo sentido. De um lado, designa a "ação de unir", ao passo que, de
outro, designa "jugo". Dessarte, "HATHA YOGA" significa o perfeito conhecimento das duas energias, a
energia positiva do Sol e a energia negativa da Lua, a sua associação perfeita harmonia e completo equilíbrio, e a habilidade
para controlá-las de maneira absoluta, isto é, para submetê-las ao jugo do nosso "Eu".
Esse sistema é único em todo o mundo, visto que aperfeiçoa conscientemente o corpo,
compensa-lhe quaisquer defeitos físicos e empresta-lhe uma esplêndida fôrça vital. Conduz-nos a Hatha Yoga de volta
à natureza, familiariza-nos com as forças curativas que possuem as ervas, árvores e raízes, ministra-nos ensinamentos
sobre o nosso próprio corpo e as forças que atuam dentro dêle, e lava-nos à íntima harmonia entre corpo e alma. O
corpo reageaos menores impulsos da mente, e o estado da mente é poderosamente influenciado pelo estado do corpo.
Essa reciprocidade é utilizada pela Hatha Yoga, que torna sadios assim o corpo e a mente. O caminho que se há de
seguir é o de tornar conscientes o nosso corpo e tôdas assuas atividades. Até o sistema nervoso simpático e todos os
órgãos cujo funcionamento independe, habitualmente, da consciência pode tornar-se subserviente à vontade. A
incalculável vantagem ssio é que se pode evitar qualquer funcionamento defeituoso e proteger o corpo de moléstias
oriundas de causas funcionais. Posso, por exemplo controlar a atividade do coração e evitar-lhes as palpitações
resultantes de algumestímulo externo como o mêdo, uma notícia má ou uma súbita alegria. Posso, assim, protegê-lo
com a dilatação, a degenerescência do músculo cardíaco, ou outras moléstias. Ou, podemos controlar as secreções
do sistema glandular, posso governar as funções de quase todos os órgãos do corpo e, dessa maneira, governar o meu
estado físico. O Hatha Yogue que ascende ao mais alto nível de habilidade tem completo e absoluto domínio sobre o corpo.
Pode regular a seu talante a atividade do coração, do aparelho digestivo e o funcionamento de todos os outros órgãos
do corpo. Inúmeros viajantes do Ocidente, que, depois de grandes dificuldades, tiveram a boa fortuna de acertar com
um verdadeiro Hatha Yogue durante asua visita à Índia confirmaram o fato de que Yogues de 80 ou 90 anos dão a
impressao de ter 30 ou 40, e de que - conforme os padrões ocidentais - chegam a idades incrivelmente avançadas
porque podem recarregar os seus corpos, à vontade, de novas energias vitais.
O simples prolongar da existência, todavia, não é o objetivo dos Yogues. Não representa a Hatha Yoga
um fim em si mesma, mas uma preparação para uma Yoga espiritual mais elevada. É dificílimo desenvolver a consciência
e orientar o espírito para um nível mais alto de atividade num corpo doente. Por esse motivo, deveríamo familiarizar-nos
primeiro com as fôrças que atuam dentro de nós, a fim de as podermos utilizar e dominar adequadamente mais tarde.
Então já não nos será o corpo obstáculo à ascensão a planos mentais e espirituais mais elevados. Algumas pessoas
contentam-se em adquirir poderes mágicos com cujo auxílio podem levar a cabo certos atos comumente havidos por
milagrosos. Os que assim procedem empacam no meio do caminho e não progridem. A meta pela qual devemos lutar só
pode ser a libertação das cadeias do mundo material. Não confundamos, portanto, o fim com os meios. O conhecimento
do corpo e de suas fôrças secretas é - por mais importante que seja - apenas um meio para chegar a um fim. Daí
que um verdadeiro Hatha Yogue nunca faça demonstrações de sua ciência e habilidades penas para satisfazer uma
curiosiadade ociosa. Quem o fizer não será um autêntico Hatha Yogue. O verdadeito Hatha Yogue só se utiliza
das suas habilidades quando, por meio delas, pode auxiliar os outros.
Recentemente, a medicina ocidental voltou a atenção para a Hatha Yoga, e os que lhe conhecem os
segredos - os Yogues - Oferecem valioso cabedal de informações aos objetivos e finalidades da Medicina.
Os prolegômenos da Hatha Yoga são tão interessantes e úteis que vale a pena conhecê-los
e dedicar-lhes atenção. Até os grandes mestres tiveram de iniciar por eles o seu aprendizado, pois sem alfabeto
não há leitura. O primeiro passo da Hatha Yoga nos ensina a arte de sermos sadios.
Primeiro que tudo, precisamos familiarizar-nos com o nosso corpo, embora não teoricamente,
como nos estudos da Anatomia. A Anatomia ensina-nos o que existe no corpo humando e onde se
encontra. Mas o verdadeiro conhecimento do corpo é coisa inteiramente diversa. Significa, na hipótese
de eu saber, por exemplo, onde está o coração, que possa também descer a êle com consciência; posso sentir-lhe a
forma, as aurículas, os ventrículos e válvulas - tudo de maneira tão clara e positiva que eu talves expressasse melhor a
situação se dissesse: "Eu sou o meu coração". E devo ser capaz de fazer o mesmo com o estômago, os intestinos,
o fígado, os rins e cada uma das fibras do corpo. Quem jamais praticou quaisquer exercício de Yoga poderá, quando
muito conhecer, dessa forma, o palato e o interior da bôca. Entretanto, quem quiser tornar-seum Hatha Yoga deverá
exercitar-se por tanta maneira que seja capaz de dirigir a consciência às menores partes do corpo. Chegado a êsse ponto,
o passo seguinte consistirá em dirigir a consciência, unida à vontade, às menores fibras do corpo. Voltanto
ao exemplo anterior, já não me basta poder penetrar o coração. O coração há de subordinar-se à vontade, de sorte que
me seja possível fazer circular o sangue mais devagar ou mais depressa, à minha discrição. Isto não é impossível !. Assim
como qualquer pessoa pode aprender a mover a língua, os dedos ou muitas outras partes do corpo ao seu bel-prazer,
qualquer um pode aprender também, através da prática sistemática, a controlar cada parte do corpo. Até entre as
pessoas comuns, há produndas diferenças no tocante à extensão da consciência dos seus corpos. Também há
diferenças nascidas da profissão. Os dedos de um pianista são muito mais independentes e conscientes do que os de
uma pessoa que nunca tenha tocado piano. Por que ? - porque o pianista tornou mais conscientes os seus através de
constantes exercícios. Quem estuda a Hatha Yoga também pratica constantemente, dia após dia, ano após ano, com
paciência e persistência. Mas exercita-se em levar a consciência cada uma das partes do corpo. Valerá isso a pena ?
Sim ! Pois os resultados são admiráveis. Descobre em si mesmo fôrças secretas que, a pouco e pouco, aprende a
dominar. Aprende que há duas correntes vitais ativas em seu corpo e que o completo equilíbrio de ambas significa
saúde perfeita.
Simultâneamente com a expansão da consciência, compreende o dfiscípulo que tudo o que vive no
tempo e no espaço está vivo por trazer em si mesmo polaridade e ritmo. Começa a desvendar os segredos da criação.
No momento em que o princípio criador emerge do absoluto e se divide em dois, nascem os pólos negativos e positivo,
isto é, a polaridade. Entre ambos se estabelece a conexão de pulsações, nasce o ritmo e principiam, emtão, as
manifestações da VIDA.
Até nos cristais vamos descobrir a presença de um pólo positivo e outro negativo, e encontramo-los em
todos os níveis de expressões de vida. A polaridade e o ritmo dão vida ao universo inteiro. Os movimentos de corpos
gigantescos no espaço infinito, como os seus planetas e satélites - até as manchas solares, o pulsar os corações dos
sêres vivos, o nosso respirar e ser, tudo isso ocorre num ritmo que nasce da polaridade. Alternam-se, rítmicas, correntes
positivas e negativas em completo equilíbrio.
Na mitilogia indiana, o ritmo que atua em todo o universo é simbolizado pela imagem dançarina do deus
Shiva. A dança é uma manifestação de ritmo.
A nossa Terra também tem dois pólos, e nós humanos, que nascemos do pó e ao pó retornamos,
trazemos igualmente a polaridade dentro de nós, a saber, um pólo positivo e outro negativo. O positivo localiza-se na
parte superior do crânio, no sítio em que os cabelos formam um redemoinho e é facilmente encontrado na cabeça de uma
criança. O polo negativo encontra-se no cóccix. ou seja, a última vértebra. Entre ambos circula uma corrente de freqüência
extremamente alta e curtíssimo comprimento de onda. Essa tensão é a VIDA!
O veículo da vida é a coluna vertebral
Querendo manifestar-se, expandiu-se a Vida até à vértebra mais alta da coluna vertebral e converteu-a
num crânio. Converteu o fino material de que êle se compõe em condutor de corrente e deu-lhe habilidade para
expressar inteligência e sentimentos. Dessarte, veio a existir o cérebro. Através desse material a vida quir ver, ouvir,
cheirar e sentir. Assim evolveram or órgãos dos sentidos: olhos, ouvidos, nariz, bôca e nervos sensitivos. A fim de
mover-se no espaço e poder agir criou pés e mãos, para que essa criatura pudesse continuar a existir e
proporcionar um substituto em caso de deterioração, criou os vários órgãos de reprodução e propagação. O
sistema nervoso serve de transmitir a corrente vital.
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